Bloco de Esquerda :. Grupo de Trabalho Autárquico :. Braga

Actividade autárquica do Bloco de Esquerda no concelho de Braga - Mandato 2005/2009


sábado, outubro 14, 2006

A propósito da Capital da Cultura

Nota à Comunicação Social

O Bloco de Esquerda não se pronunciou até à data sobre o insucesso da candidatura bracarense a Capital Europeia da Cultura, aguardando a posição da Câmara Municipal sobre o assunto e as suas propostas alternativas para o desenvolvimento cultural do concelho nos próximos anos.
Como é público, sempre considerámos a candidatura de Braga com algum cepticismo, porque entendemos que ser capital da cultura não pode ser encarado como uma causa mas sim como uma consequência das políticas culturais. Justamente por isso, a candidatura portuguesa foi atribuída a Guimarães, cidade que, lembre-se, nem se apresentara a concurso. Importa também relevar a impotência da maioria socialista de Braga para fazer valer a candidatura junto de um governo da mesma cor partidária, sinal bem revelador - como outros, aliás - da desconsideração das políticas culturais de Mesquita Machado.
Recorde-se a este propósito que a proposta de uma candidatura conjunta de Braga e Guimarães a capital europeia da cultura, apresentada há alguns anos pelo Bloco de Esquerda e imediatamente ridicularizada pelo executivo municipal, para depois ser retomada pelo Reitor da UM, tem nesta decisão da Ministra da Cultura um irónico corolário: o da escolha, sem necessidade de candidatura prévia, da cidade de Guimarães, para a candidatura de Portugal à cidade europeia capital da cultura de 2012.
Vem agora a CMB revelar em pungente comunicado que Braga é afinal uma capital da cultura permanente, apresentando, para suportar tão audaz declaração, o Plano Municipal de Actividades para 2007. Porém, o que verificamos neste plano é o enunciado, pela enésima vez, de um rol de piedosas intenções cuja concretização pífia os bracarenses vêm acompanhando ano após ano. Do texto, e tiradas as frases pomposas, fica um elenco desorganizado de instituições, temas e actividades vazio de conteúdo e aos quais não subjaz qualquer conceito de cultura. Como exemplos, a defesa e preservação do património bastam-se com congressos e roteiros turísticos (e os planos de recuperação arquitectónica? e o desenvolvimento urbanístico sustentado?); a Bibliopólis é "uma estrutura de desenvolvimento bibliográfico", o que quer que isso seja - pensávamos que seria um equipamento de promoção da cultura, da formação ao longo da vida, do acesso público à informação e à cidadania, mas estamos, nós e a UNESCO e a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, obviamente enganados. Desta feita, o novo Theatro Circo é apresentado como estrela da companhia sendo que este equipamento, a par da futura Escola de Música (esperemos sentados por esta promessa), terão a responsabilidade da formação e captação de novos públicos. E é justamente nesta proclamação que se revela de forma clara que a Câmara esteve pouco mais do que inerte nos últimos anos, obcecada com a obra mas esquecendo o conteúdo. Nada foi feito, particularmente junto dos mais jovens, para o fomento da apetência pela criação e fruição cultural, nos domínios da música, das artes visuais e performativas, esperando-se que por geração espontânea os cidadãos acorram aos espectáculos e exposições, que constituem o topo da pirâmide, quando não foram habituados e incentivados ao envolvimento nas práticas culturais.
De costas voltadas para os cidadãos e para grande parte dos agentes culturais do concelho, a Câmara Municipal entretém-se agora com proclamações propagandistas, não perdendo um segundo a reflectir sobre as causas da derrota da candidatura apresentada, numa atitude de fuga para a frente a que estamos habituados mas que nenhum benefício tem trazido ao concelho.
Face a esta realidade, o Bloco de Esquerda apresenta publicamente aos bracarenses a proposta da convocação de um Fórum Cultural do Concelho, como espaço de diagnóstico, debate e proposta, com o envolvimento de associações, criadores, promotores, profissionais do sector e todos os cidadãos empenhados na reabilitação cultural de Braga, para que a expressão "capital permanente da cultura" possa ser proferida num futuro próximo com seriedade e orgulho por todos nós.
É que a cultura vive-se, respira-se e comunica-se, não se apregoa das varandas do Pópulo, nem se dá com a barbárie do crescimento descontrolado.


Braga, 12 de Outubro de 2006
O Secretariado Concelhio do Bloco de Esquerda