O pequeno e arguto velociraptor
[texto de Custódio Braga (mal) citado pela notícia do JN abaixo reproduzida]
Dos trinta anos que leva de presidência da câmara de Braga, o engenheiro Mesquita Machado tem recebido demasiado reconhecimento imerecido, principalmente da parte da população mais velha. No simples plano do crescimento da cidade, atribuem-se ao engenheiro méritos a propósito de factos em que ele não meteu prego nem estopa.
Três exemplos rápidos: Braga cresceu, como cresceram, à sua escala própria, Esposende ou Fafe, sem que M.M., que manda tanto no processo global de progressiva concentração das populações nas cidades, como manda na chuva e no bom tempo, tenha tido aí qualquer papel de realce; a instalação de equipamentos, de iniciativa da administração central, com destaque para a Universidade do Minho, criou dinâmicas de desenvolvimento que ultrapassam largamente os limitados, se é que existem, desígnios estratégicos desta autarquia; finalmente, a “obra de Mesquita” é fruto do novo enquadramento de competências e de financiamento do poder local, que não tem comparação com os pindéricos meios dos presidentes de câmara do Estado Novo, os únicos que os bracarenses conhecem para comparar com o actual. Ora, que se saiba, ainda não está provado que tenha sido M. M. quem fez a revolução do 25 de Abril.
Em trinta anos Braga cresceu, como cresceu Aveiro, Setúbal, Almada ou a Póvoa de Varzim. Beneficiou de uma dita habitação barata, mercê da caudalosa oferta e da sua baixíssima qualidade. A falta de planeamento urbanístico faz com que, hoje, a maior parte da habitação nesta cidade sofre de desvalorização acelerada, só comparável à dos carros em segunda mão, fenómeno que só se volta a verificar nos piores dormitórios de Sintra ou de Vila Nova de Gaia. O que cresceu mais ainda foi a fortuna de vários empreiteiros, como os famigerados Rodrigues e Névoa, tentaculares novos barões deste novo feudo de Braga. A obra do regime, o estádio municipal, é um hino de cimento à consagrada triangulação das autarquias, empreiteiros e futebol.
Mesquita Machado, em trinta anos, não teve o engenho de criar um sucessor. Da mediocridade de que se rodeou, não se vislumbra sombra de um número dois. Sem Mesquita, a família mesquitista cai na rua, fica sem abrigo. Mesquita vai deixar a câmara de Braga ao PSD, que garantirá a continuidade das suas piores políticas e procedimentos, com a agravante do abandono das suas poucas e pífias políticas sociais, mas que lhe têm proporcionado sucessivas reeleições à custa do voto popular. Destacado exemplar do clube em vias de extinção dos dinossauros autárquicos, falta definir-lhe a espécie. Não me parecendo que o engenheiro concorra à estatura de um tiranossauro rex, tenho para mim que acabaremos por o filiar na famosa linhagem do pequeno e arguto velociraptor.
Custódio Braga, da Coordenadora Concelhia de Braga e da Mesa Nacional do BE
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